inapta a viver de cabeça leve

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

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hoje, 5 anos, cinco anos sem você.
Eu mal me lembro da sua voz, seu rosto tá começando a ficar embaçado na minha memória se não me ajudo com uma foto, o tempo passou...
Você não está aqui, e faz tanto tempo.. mas ainda se faz mais presente na minha vida do quem está vivo, não sei porque, nem sei se procede ou se são só memórias distorcidas, mas acho que eu era realmente mais proxima de você do que de qualquer outra pessoa dessa familia.
Você era o unico que eu não ligava de demonstrar amor. Lembro de te dar um beijo na testa antes de você ir deitar.
Fico realmente feliz por ainda lembrar de detalhes, de dias bobos, fico feliz da sua risada ainda ecoar na minha cabeça.
Aquela tarde...fico feliz de não ter ido lhe ver dentro daquele caixão, acho que é muito mais bonita a sua imagem sorrindo e comendo na mesa da cozinha da antiga casa da minha vó. Quando minha mente tem que forçar demais pra lembrar exatamente do seu rosto penso no quadro seu que tem em cima da televisão da casa nova da minha vó.
Lembro muito bem dos seus olhos além da sua risada. Eles eram lindos, não me cansava de dizer.. aquele azul. E suas mãos, lembro delas, sempre gostei de mãos, desde pequena.. sua unha era grande, acho que nunca tinha parado pra pensar nisso e sua mão era gordinha e por isso ainda mais fofa. Assim como você.
É estranha a sensação de não lembrar exatamente da sua voz mas lembrar de como você falava, de como chamava minha vó. Fui ver fotos na sala, as fotos me lembram os dias, posso me lembrar o lugar que cada um tava sentado naquela cozinha, posso lembrar o porque da cara que eu tava fazendo, posso lembrar de vocês comentando sobre meu cabelo longe da Isis...
Fico me perguntando se você ia odiar as coisas que eu faço como todo mundo odeia hoje, se ia compartilhar com o meu pai a mesma opinião sobre meus cabelos coloridos ou se ia dizer que tava bonito só pra me fazer rir. Fico me perguntando o que diria dos meus desenhos, se ia falar que vou virar costureira ou se me apoiaria. Fico me perguntando se você sabe de todas essas minhas duvidas.
Como disse, você se faz mais presente na minha vida do que os vivos, talvez porque eu sempre tenha rido muito com você, porque você era o unico a não brigar comigo o tempo todo, porque você me dava aqueles sorrisos ironicos quando aprontava algo.
Tenho medo de não ter sido nada disso, de eu estar errada e só ter tido essa impressão porque era criança demais pra saber se o senhor gostava de mim desse jeito mesmo ou era como os outros.
Todo ano é a mesma coisa, todo ano me lembro dos dias e choro, todo ano. Todo ano sinto essa saudade que chega a machucar e parece que ela nunca passa. Toda vez que faço algo novo, diferente, penso se você se orgulharia ou nem saberia como os outros. Fico pensando se te mostraria as coisas novas que sei fazer agora ou se seria como as outras pessoas que mal sabem o que aprendi nesses ultimos meses.
Eu nem sei se meu pai se lembra que hoje faz 5 anos.
Eu nunca fui no cemitério chorar as pintangas como minha vó ou meu pai, ou até quem sabe um dos meus tios, nunca fiquei falando bem de você por ai como todo mundo, mas acho que sou a segunda pessoa que mais sente. Minha vó, as vezes acho que ela vai morrer de saudade de você.
Eu não sei onde você tá, não sei se sabe de tudo isso, não sei se ficaria orgulhoso ou bravo ou decepcionado comigo pelo que me tornei,e nem nunca vou saber.
Eu nem mesmo sei aonde foi parar a unica coisa que tinha sua, faz anos que não a procuro, não me lembro quando foi a ultima vez. Faz tempo, muito, o suficiente pra eu não me lembrar aonde ficava guardada, não ter nem ideia..
As fotos mostram alguém tão pequena, tão diferente, as ultimas mostram o começo da babaquice, mas ainda pouca, só as roupas começaram a ser menos rosa, e usava muita pulseira, lembra de você rindo disso.
5 anos.
talvez as pessoas não entendam quando odeio que elas falem que vão morrer na brincadeira...talvez entendessem se soubessem tudo o que aconteceu naquela tarde

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