inapta a viver de cabeça leve

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

4 years

Eu estava voltando da escola, como todos os dias, estava conversando mas por algum motivo fiquei séria, não quis mais conversar e quis chegar logo em casa, as pessoas estavam me irritando, eu não queria mais falar sobre coisas dessinteressantes pra mim, eu queria minha casa, queria comer, dormir e só.
quando finalmente cheguei em casa, era 13:30 mais ou menos e tudo estava normal, minha vó me esperando com a comida feita, o Hassan assistindo tv no meu lugar do sofá e meu irmão na escola. Comi, e fui dormir, as 16, como de custume acordei pra estudar matemática, acordei não, fui acordada...e levantei do sofá com aquela cara de 'te odeio'. Foi o tempo de eu sentar na mesa e colocar o lápis na folha, o telefone tocou. E lógico que eu ia atender, assim eu não estudava. Era a minha mãe, ela tava falando estranho, assustada e não me perguntou nada, nem falou alô, só disse:' passa pra sua vó agora Letícia' e eu escutei pessoas falando de fundo, como eu sou bem da curiosa :' porque mãe? que foi?'- 'passa pra sua avó agora Letícia, por favor' e nessa hora ela parecia ainda mais assustada. Minha vó pegou o telefone da minha mão depois de eu ir até a cozinha e a estender ele. Minha vó sempre foi muito doida, pior que eu até, e na hora que ela atendeu e falou:' que foi fia?' e percebi que minha mãe tinha respondido, a expressão da minha vó mudou e ela fez :' am?' e saiu de perto da gente, que a essa altura já tinha juntado os três bonitinhos em volta dela pra entender o que tava acontecendo. Eu fui pra perto e escutei ela falando :' ai meu deus do céu, precisa contar pra eles, não pode esconder, até porque...eles precisam ir ai', nessa hora eu assustei, achei que era algo com o meu pai e na hora me bateu o remorço de todos esses anos ter sido tão ruim com ele por simples birra. Na hora comecei a chorar, e enquanto isso o Victor e o Hassan falando de pokemon na sala, e eu esperando minha vó vim falar o que tinha acontecido e pensando no que o Vi faria...e quando minha vó saiu do quarto ela falou com uma naturalidade tão grande que eu cheguei a não entender. E me senti aliviada por pelo menos saber que não tinha sido com o meu pai, fui tomar banho, eu teria que sair...Na metade do banho me dei conta de que tinham me dito que seu corpo tinha perdido a vida, mas mesmo assim fiquei sem entender. Terminei meu banho, passei meu lápis no olho, peguei minhas pulseiras, coloquei meu all star e comi chocolate, em mais ou menos 20 minutos de espera meu tio chegou... ele não falou com a gente, com ninguém, simplismente parou o carro na frente da casa da minha vó e entramos, meu irmão que não entendia o que tava acontecendo, ria e conversava enquanto meu tio e eu não diziamos nada, não riamos e nem sequer nos mexiamos, chegamos no meu pai, e minha mãe tava sentada lá fora, com cara de nada, eu sai do carro e ela perguntou se tava tudo bem e eu super sincera falei ' tudo ué', e ela pegou meu irmão no colo, eu entrei sem perguntar se podia, até porque é meu pai, porque eu bateria, perguntaria, ou hesitaria ? quando abri a porta ele estava sentado na cama, olhando pro nada, chorando, e tão distraido que não me notou. 'que foi?'-' vem aqui!' e abraçou, e foi a primeira vez que o vi chorando, e naquela hora eu entendi o que tava acontecendo, era pior do que ter acontecido algo, era a morte de alguém, era o fim de uma vida, era o adeus a alguém que cuidou de mim e me viu crescer, de alguém que me defendia, me matava de rir e brincava comigo, era o adeus a alguém que nunca tinha me deixado, a alguém que me amava e tinha planos comigo pra dali muitos anos, era o fim de alguém que não veria meus quinze anos, não me veria na faculdade, ou simplismente crescendo, era o fim de alguém que não poderia colocar defeitos nos meus namorados ou dar risada das minhas brigas na escola, era o fim da vida de uma das pessoas mais importantes que eu conhecia.
meu pai e minha mãe não estavam conversando e eu não tava entendendo aquilo, na verdade eu não tava entendendo nada, ali ninguém falava, ninguém se olhava e parecia errado perguntar. Entramos em outro carro e deixamos meu tio ali, com uma garrafa de cerveja na mão, sozinho...ninguém perguntou se ele queria ir junto, ou foi dar um abraço nele. então eu fui, e então vi ele chorando, não foi legal! mas ele me abraçou e falou que ia me ajudar lá na minha vó, e eu também não entendi o porque ele teria que me ajudar na casa da minha vó, mas quando eu passei pela porta e vi aquele monte de gente sentado no sofá em silêncio enquanto cada irmão estava num quarto chorando de dar dó e minhas primas sozinhas na cozinha, pensando no que fazer.
Meu tio, foi até elas comigo e disse pra ir pro quarto da minha vó dar um abraço nela, depois disso ele saiu pela porta e só fomos encontrar ele no cemitério, com o olhar distante. Ao chegarmos no quarto minha vó não parecia a mesma, ela tava agarrada a uma blusa dele, chorando como nunca antes, e percebemos ou achamos simplismente, que era melhor não ir abraçar ela, isso ia piorar... pegamos os nossos desenhos, eles ficavam do lado esquerdo da cama, do lado que ele dormia, tinha alguns colados dentro dos armários, e outros reconstruidos com durex depois das nossas brigas. fomos lá fora e fizemos daquele momento algo tão divertido, lembramos de cada dia, e de cada coisa que ele falava e riamos!
fomos pra cemitério e a essa altura eu já não tava me importando em entender, só em sair dali. Decidimos não entrar no velório e graças ao meu lindo tio espertão ficamos no carro, os cinco, sozinhos, com medo mas rindo.
Depois de muitos dias fui entender o que tinha acontecido, mas sabe foi injusto. Você ainda tinha tantos netos pra cuidar, pra implicar com a roupa e falar mal dos carinhas da tv que agente gostava, ainda tinha tanta briga pra botar fogo e tantas cócegas pra fazer, ainda tinha tantos dias pra me levar escondido no mc, tinha tantas noites pra assaltar a geladeira comigo e com as meninas, tantos natais e anos novos com brincadeiras e som no ultimo volume que irritava a todos menos ao senhor, tinha tanto pra viver...
e hoje, faz 4 anos que não me fazem mais cócegas, me pegam e não me soltam mais, que não me chamam de princesa com aquele tom ironico, que não me dizem que sou meiga só que gosto de fazer ao contrário pra fica mais estiloso,  que não dão risada quando falo que tô triste, que não me levam pra fazer idiotice, que não vão assistir filme e dormem no meio e depois dizem que estava só descansando os olhos, faz 4 anos que não me acordam com barulho de panela organizado, ou me obrigam do jeito mais besta a comer salada, faz 4 anos que não riem quando eu saio cuspindo leite porque minha prima me fez rir, faz 4 anos que não dão risada quando eu e minhas primas quase se matamos, faz 4 anos que não tenho mais meu melhor amigo, o velho mais legal do mundo, o gordinho mais lindo, dono dos olhos mais lindos e mais sensual néh UASHSUHSA faz 4 anos que todo ano me dá um aperto no coração, faz 4 anos que o senhor não vê mais agente crescendo, faz 4 anos que não ganho mais barbies, faz 4 anos que o senhor não fica tirando da minha novela, e 4 anos que a familia não é mais a mesma.
mas pode passar 20 anos, 30, 40 que vou lembrar de você do mesmo jeito, com o mesmo amor e sentindo a saudade apertar cada vez mais!

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